O extintor de incêndios existe para ser usado quando algum fogo descontrolado fosse visto. Com o cheque especial, o mesmo deveria acontecer: somente usá-lo em situações de emergência, como necessidade de comprar alimentos, pagar algum imprevisto e coisa do tipo. Porém, não é o que vem acontecendo. As pessoas estão utilizando este extintor o tempo todo, e o pior, o custo para o seu uso acaba sendo muito alto.
De acordo com a Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban, 24 milhões dos 150 milhões de clientes ativos do setor bancário usam o cheque especial. A média de uso é de R$ 900 por 16 dias. Além disso, outro número alarmante foi levantado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) que mostra que 51% das pessoas que têm cheque especial não sabem sobre os juros cobrados.
O primeiro ponto a entender sobre o cheque especial é que ele é uma categoria de crédito. Ou seja, um terceiro, no caso o banco, acaba emprestando um valor, e, depois, o usuário devolve este valor com o acréscimo de juros, que aumentam conforme o aumento do tempo usado. Praticamente todos os bancos acabam liberando um limite de cheque especial para seus clientes no momento da abertura da conta. O banco acaba não instruindo o cliente, e, no final das contas, esse limite chega até a ser confundido com um valor disponível em conta para uso. Toda vez que o saldo da conta corrente da pessoa zera, automaticamente entra-se nesse limite, e, o valor que é “emprestado” e o número de dias que o saldo não voltar a ficar positivo trarão a cobrança dos juros.
Pensando no lado do banco, ao oferecer para praticamente todo mundo, ele acaba tomando um grande risco, portanto, pela relação de risco retorno, acaba cobrando caro, para cobrir as pessoas inadimplentes. Além disso, o fato do crédito ser automático acaba trazendo uma praticidade e uma alta demanda pelo mesmo, logo, a instituição financeira pode pesar ainda mais neste empréstimo.
Esse cenário fez o cheque especial se tornar a categoria de crédito com os juros mais altos, superando inclusive os juros do cartão de crédito, gerando dívidas e problemas financeiros para muita gente. De acordo com o último levantamento do Banco Central, no último mês o cheque especial variou entre 0,63% e 15,98% ao mês (sendo que os maiores bancos estavam mais nessa faixa superior). Esse valor ao ano, acabou apresentando uma faixa de juros entre 7,78% e 492,29%. Em outras palavras, supondo que a pessoa que utilizou R$ 900 do cheque especial poderia ter que reembolsar os bancos em R$ 1.043,82 no mês, ou até R$ 5.330,61.
Por conta dessa verdadeira exploração, no dia 01 de Julho passou a valer uma nova autorregulação da Febraban, em resposta a um pedido do Banco Central: passados 30 dias no cheque especial, os correntistas deverão ser direcionados para modalidades de crédito mais baratas. Os bancos deverão oferecer esta proposta para os clientes que usarem mais que 15% do limite por mais de um mês. A medida não é obrigatória, mas os bancos devem prestar contas da adesão ao Banco Central.
Independente dos bancos realizarem a proposta, cabe a cada correntista entender o funcionamento do cheque especial e somente usá-los para emergências. Quando um empréstimo for necessário, vale sempre o esforço de pesquisar créditos disponíveis e buscar as opções com os juros mais baixos e melhores condições para pagamento. Caso contrário, a bola de neve acaba só aumentando e pode chegar a dimensões irreais.