O ano de 2018 foi um dos anos mais importantes para as Fintechs, empresas startups que proporcionam soluções tecnológicas para serviços financeiros. O movimento que é recente, passou por um ano de grande crescimento e desenvolvimento das iniciativas, com alguns acontecimentos muito marcantes. Confira os principais marcos abaixo:
1) Banco Central: o novo aliado
Um dos grandes medos das fintechs era que o Banco Central do Brasil (BACEN) se posicionasse contra o movimento, criando regulamentações que tornassem verdadeiras barreiras para o surgimento e crescimento das iniciativas. Porém, em abril foi publica a resolução 4.656 regulamentando as fintechs de crédito, com a criação dos setores Sociedade de Crédito Direto (SCD) e Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP).
Em agosto o BACEN publicou uma proposta de simplificação dos requisitos técnicos para concessão de microcrédito, com autorização para fintechs. Mais recentemente, em dezembro, o BACEN autorizou a QI Tech a atuar como uma SCD, sendo esta a primeira aprovação para concessão de crédito sem a necessidade de intermediação de um banco.
Além do Banco Central, o Congresso também demonstrou apoio para as iniciativas. A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de Lei Complementar 420/14, criando a figura da Empresa Simples de Crédito (ESC) e o Senado apresentou u m relatório chamado “Inovação e Competição: novos caminhos para a redução dos spreads bancários”, no qual as fintechs são consideradas armas para redução do spread bancário.
2) Caso Neon
Apesar do ano ter sido ótimo para as fintechs, nem tudo foi perfeito. O primeiro caso que deu o que falar foi o do Neon. Logo após a fintech Neon (um banco digital) ter recebido a maior rodada de investimentos série A da história do Brasil, com aporte de R$ 72 milhões, o Banco Central determinou a liquidação extrajudicial do Banco Neon. O que aconteceu é que existiam duas empresas: o Banco Neon S.A e o Neon Pagamentos, a fintech. O Banco estava com diversas irregularidades, enquanto a fintech estava regularizada. Porém, o desenrolar da história foi bem contornado pela statup: eles fizeram uma parceria com o banco Votorantim, voltando a operar normalmente, inclusive passando a oferecer cartão de crédito.
3) Vazamento de dados
Além dos tradicionais bancos e grandes empresas, que hora ou outra acabam tendo sistemas fora do ar e passando por alguns problemas de tecnologia ou vazamento de dados, algumas fintechs também sofreram com casos parecidos, sendo o mais comum o de vazamento de dados. Em agosto vazaram dados de 264 mil clientes da Atlas Quantum, uma corretora de criptomoedas. Um mês antes vazaram dados pessoais de 13 mil clientes do Banco Inter.
4) Primeiras fintechs brasileiras viram Unicórnio
O Brasil viu recentemente suas primeiras startups virarem unicórnios, que em outras palavras, significam empresas que passaram a alcançar a marca de US$ 1 bilhão. Após a 99 ter alcançado essa marca, duas fintechs pegaram carona: o PagSeguro e o Nubank. A primeira é como se fosse uma das irmãs mais velhas das fintechs, por já existir há mais tempo, enquanto que a segunda é considerada uma das startups mais promissoras em nível global.
5) Fintechs estreando nas bolsas de valores
O ano de 2018 também marcou a entrada de algumas fintechs brasileiras nas bolsas de valores, tanto na B3, a bolsa brasileira, quanto em bolsas estrangeiras. A primeira delas foi o Pagseguro, já em Janeiro, que levantou US$ 2,3 bilhões na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Em abril foi a vez do Banco Inter, que abriu seu capital na B3, captando R$ 722 milhões. Por fim, em outubro a processadora de cartões Stone captou US$ 1,5 bilhão em IPO na Nasdaq.
6) Novas funções
Muitas das fintechs foram criadas focando em apenas uma das inúmeras funções que o grandes bancos fazem. Por exemplo, o Nubank foi criado inicialmente para ser um cartão de crédito. Porém, com o seu crescimento e demanda, o roxinho deixou de ser apenas um cartão de crédito e passou a ser também uma conta digital. Já a XP, que inicialmente era apenas uma Corretora de Valores, que até chegou a ter parte comprada pelo Banco Itaú, recentemente recebeu aprovação do Banco Central para ser um Banco também. E o Banco Inter, tradicionalmente um banco digital, passará a ter também uma corretora de investimentos.
7) Aumento no número de iniciativas e a qualidade dos serviços
De acordo com o Radar Fintechlab, em Novembro de 2017 foram registradas 332 fintechs atuantes no Brasil. Já no radar de Agosto de 2018, o número saltou para 453 startups, representando um crescimento de 23%. Os maiores aumento se deram nos setores de Criptomoedas (86%), Câmbio e Remessas (55%) e Seguros (37%).
Em relação à qualidade, as startups financeiras continuaram apresentando maior satisfação dos clientes do que as empresas de serviços financeiros tradicionais. O Google divulgou resultados de uma pesquisa no final de Novembro mostrando que os brasileiros estão mais satisfeitos com as fintechs do que com os bancos tradicionais. Nessa pesquisa, 71% dos consumidores entrevistados afirmaram estar contentes com as startups financeiras, enquanto 42% disseram ter o mesmo sentimento em relação aos bancos tradicionais.
8) Investidores de olho nas Fintehcs
2018 também foi um ano de sequência aos aportes que investidores vêm realizando, por conta da relevância e no potencial crescimento que estas empresas apresentam. Alguns exemplos de aportes foram na Geru (R$ 238 milhões via debêntures), Rebel (R$ 16,6 milhões), BizCapital (R$ 20 milhões), iouu (R$ 1,2 milhão via equity crowdfunding), Antecipa Fácil (R$ 30 mil via P2P Lending).
Mesmo com os grandes investimentos, este tipo de mercado ainda pode receber muito mais. De acordo com a Pesquisa Fintech Deep Dive 2018, 41% das startups financeiras não receberam investimentos (sendo que mais da metade das empresas já atingiram o break-even point).
9) Fortes no Brasil e no mundo
Algumas fintechs, além de tornarem-se referência por aqui, também ganharam patamar de destaque a nível global. A empresa de análises CB Insights divulgou o ranking Fintech 250, com as startups financeiras mais relevantes de 2018, no qual cerca de 4.000 iniciativas foram avaliadas. Dentro das 250 melhores, algumas brasileiras apareceram na lista: Conta Azul, Creditas, Neon Nubank e Toro Investimentos (além da Brex, que não é dos EUA mas foi fundada por brasileiros).
10) Bônus: o ano do Bitcoin e das Criptomoedas
No caso de 2018 para o Bitcoin, temos dois cenários. Do ponto de vista da tecnologia, a Blockchain, tivemos um ano muito interessante, já que as suas aplicações se extenderam para inúmeros setores e empresas, inclusive por boa parte dos bancos. Já a moeda digital em si acabou não tendo um ano muito bom. No ano passado, o Bitcoin teve a sua maior cotação histórica, chegando a marca dos US$ 20 mil. Um ano depois a cotação fica perto dos US$ 4 mil, com um gráfico anual mostrando uma forte desvalorização, trazendo reflexo para as outras criptomoedas também. Essa desvalorização aconteceu por inúmeros motivos, afinal estamos falando de algo novo e que pretende ser revolucionário. Durante o ano tivemos países se manifestando a favor e países se posicionando contra a regulamentação da moeda, além de incertezas, ICO’s de novas moedas e pirâmides usando a ideia de criptomoedas, tudo isso fez o preço oscilar (afinal também é uma forma de renda variável).