Quando vemos a palavra “Perigo” sinalizada em algum lugar, sabemos que há um grande risco de algum acidente ocorrer. Vira e mexe vemos placas alertando perigo de altas tensões, radiação, gás inflamável. Basicamente são alertas à saúde física das pessoas. Neste artigo, traremos alerta a algo um pouco diferente: a saúde financeira.
Na última quarta-feira (24), o governo anunciou algumas mudanças na política para o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço, o FGTS, e para as cotas do fundo PIS-Pasep.
Mas afinal, o que é o FGTS?
Antes de falarmos das mudanças, vamos entender o que são esses fundos. O FGTS foi criado em 1966 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa, mediante a abertura de uma conta vinculada ao contrato de trabalho. Para alimentar esta conta, no início de cada mês os empregadores depositam em contas abertas na Caixa, em nome de cada empregado, um equivalente a 8% do salário de cada um.
Com essa contribuição, o trabalhador acaba tendo uma “reserva forçada” construída para ele poder usar em momentos especiais, como em casos de demissão sem justa causa, doenças graves, aquisição da casa própria ou aposentadoria em situações de dificuldades. Ou seja, diante da dificuldade de muitos brasileiros pouparem dinheiro, essa “reserva forçada” está lá para quando mais precisa ser usada.
Já o PIS/PASEP são contribuições sociais, também recolhidas pelas empresas, que são transformadas em benefícios a trabalhadores dos setores privado (PIS) e público (PASEP). Anualmente, partes destes fundos são distribuídos em forma de abono salarial.
E o que vai mudar?
As mudanças passam a possibilitar o saque de até R$ 500 de cada conta que possuírem no FGTS, tanta ativa quanto inativa. Os saques começarão a ser liberados em setembro, e, para quem já possuir conta poupança na Caixa, o depósito será feito automaticamente. Quem não deseja sacar os valores precisa informar ao banco.
Além disso, a partir de 2020 os trabalhadores terão a possibilidade de fazer saques anuais de suas contas no FGTS. Quem optar por isso não poderá mais fazer o saque total da conta em caso de demissão sem justa causa. Para conferir todas as mudanças, confira este artigo do G1.
Estas mudanças são uma estratégia do governo para estimular a economia. Segundo o Ministro da Economia Paulo Guedes, os saques devem liberar R$ 63 bilhões aos trabalhadores, valores que, segundo ele, podem ajudar na recuperação do PIB e da taxa de emprego. Porém, a medida pode acabar sendo um “voo de galinha”, já que, ela busca favorecer o consumo e a produção (economia levantar voo), mas, sem outras medidas, não será sustentada, e tenderá a cair.
Dinheiro na conta! Isso não é bom?
O saque do FGTS tem animado muita gente. Neste cenário com um alto número de desempregados, a economia ainda patinando e, principalmente, o elevado número de endividados, qualquer dinheiro que entra já é bem visto pelas pessoas. Mas é ai que mora o perigo.
Conforme mostrado no começo do artigo, o FGTS foi criado para servir como uma poupança em situações mais delicadas que o trabalhador possa vir a enfrentar. Ou seja, na emergência, é um recurso que está lá para ajudar. Está certo que o rendimento deste fundo é bem baixo, de 3% ao ano (abaixo da Caderneta de Poupança, por exemplo, que paga na faixa de 4,5% ao ano).
Num cenário ideal, onde as pessoas são bem disciplinas e educadas financeiramente, o saque seria muito interessante, pois cada trabalhador sacaria seus recursos e realocaria em um investimento mais rentável (por exemplo o Tesouro Selic, que hoje paga 6,5% ao ano). Mas, sabemos que no mundo real, o ser humano, na maior parte das vezes, não é totalmente racional e disciplinado financeiramente, e, o que antes era um recurso para emergências, pode acabar virando recursos para compras e lazer.
Por isso, para quem for optar pelo saque do FGTS, todo o cuidado e planejamento são fundamentais.
Dicas para um bom uso dos recursos do FGTS
Antes de tomar qualquer decisão em relação ao saque, é importante fazer um levantamento da atual situação financeira. Caso não tenha, faça um orçamento levantando todos os gastos que você tem ao longo dos meses, quais e quanto são as fontes de renda. Levante também se existem dívidas/pendências e poupanças/investimentos.
Para quem tiver dívidas, o recurso do FGTS pode ser bem-vindo. Afinal, dívidas possuem juros, e, quanto antes nos mexemos para quitá-las, mais economia você terá com os juros. Para quem tem várias dívidas, busque priorizar as que possuem os juros mais altos (por exemplo, cartão de crédito atrasado e cheque especial).
Para quem não está neste cenário de dívidas, o saque pode ser muito interessante, mas, como mostramos, exige muita disciplina. O ideal é que o recurso seja todo direcionado para algum investimento. Como o recurso é destinado a construção de uma reserva de emergência, que poderá ser necessário a qualquer momento, o grau de risco dos investimentos deve ser mais baixo. Assim, os investimentos de renda fixa, como a própria Poupança (já que rende mais que o FGTS), CDBs, LCIs, LCAs, Tesouro Direto ou fundos mais conservadores são ótimas opções.
E, a disciplina não consiste apenas em realocar os recursos do FGTS em uma aplicação, mas, mais do que isso, buscar só utilizar estes recursos em casos de emergência. No FGTS, por conta das regras e de nem ver esse dinheiro, o trabalhador acabava esquecendo deste valor. Porém, a partir do momento que os recursos viram um investimento próprio do trabalhador, o acesso está muito mais fácil. E, muitas vezes, tirando de pouquinho em pouquinho a pessoa não percebe que a “fonte vai secar”.