As vitrines virtuais exibem todo tipo de mercadoria e para os adeptos das compras por impulso, a situação torna-se demasiadamente tentadora.
Visto que roupas, sapatos, aparelhos eletrônicos, produtos de mídia, alimentos e outros bens de consumo estão ao alcance de alguns cliques.
O consumo compulsivo é um problema discutido a começar pela expansão do mercado global de compra e venda de itens, onde milhares de estabelecimentos, em várias partes do mundo, se reúnem em gigantescas feiras na forma de endereços web.
Desenvolver técnicas de segurança e transferência de dados permitiu que quase todos os modelos de transações monetárias pudessem ser realizados em sua totalidade nestes espaços, automatizando o processo de compra.
O uso eficiente de meios de transporte, dispositivos de proteção e materiais mais resistentes na logística reduziu a dimensão das fronteiras entre cidades, estados e nações.
Os estoques saídos de fábrica viajam longas distâncias para qualquer lugar.
A facilidade encontrada pelas ferramentas digitais se transforma em dificuldades para controle de finanças, a mercê da criação de novas dívidas por gastos exacerbados.
A influência de anúncios onipresentes em espaços online agrava o quadro.
Alvo de estudos neurológicos e comportamentais, o hábito destrutivo das compras por impulso ganhou um nome psiquiátrico no início da era expansionista do terceiro setor: transtorno do comprar compulsivo.
Associado ao espectro de desordens que abrangem os transtornos de humor, de impulso e obsessivo-compulsivos, o hábito é analisado em diversas pesquisas que buscam padrões de comportamento, evolução do estado e predisposição para desenvolvê-lo.
Apesar de sua presença em comorbidades de diagnósticos clínicos, pouco foi definido para considerar o consumo compulsivo uma síndrome, relegada à posição de sintoma que indica uma deterioração da saúde mental.
Etapa essencial para superar o problema, conhecer as raízes que causam o consumo desenfreado de produtos permite um entendimento mais profundo sobre o que acontece com o cérebro humano durante uma compra.
Uma abordagem fisiológica do consumo
A compra de um computador novo, por exemplo, envolve uma série de fatores que atingem sentimentos de esperança em relação ao potencial acréscimo na qualidade de vida que o produto oferece, expectativas sociais e existenciais com relação à aquisição.
Uma operação de compra e venda consiste em etapas e um objetivo final, alcançado por meio da execução de várias tarefas.
O cérebro humano aprecia funções que levem o indivíduo de um ponto a outro, produzindo gratificação dividida em quatro fases:
- Estímulo de identificação do problema;
- Construção da solução;
- Execução do plano de ação;
- Conquista da meta.
Essas fases criam o esqueleto do sistema de recompensa cerebral, necessário para a motivação, mecanismo que permite a tomada de decisão para todas as ações do cotidiano, desde levantar da cama ao acordar até economizar recursos para um grande investimento.
Este esqueleto está presente no processo de conquista das mais importantes realizações de um indivíduo, tão importante que se reflete na ficção e na arte, compondo o enredo de livros, filmes, jogos e ideias estampadas em um folder promocional.
A era digital permitiu a reconstrução das quatro etapas de realização de um objetivo em micro escala, desencadeando as mesmas recompensas sob esforços reduzidos.
Estímulo de identificação
Uma das sensações mais constantes é a falta, a percepção da ausência de algo.
Tal sentimento pode ser mais ou menos intenso diante de determinados ambientes e estados psicológicos. Taxas maiores de neuroticismo são um catalisador desta experiência.
Neuroticismo é o nome designado para a concentração maior de estímulos conectados às emoções negativas dentro da percepção de um indivíduo.
Isto é, o nível de sensibilidade que indica o quão fácil uma pessoa experimenta tais emoções.
O mundo é discernido como um lugar mais perigoso e menos satisfatório para o grupo que apresenta altas taxas de neuroticismo.
O sentimento de falta pode ser mais intenso para este recorde da população.
Alguns estudos indicam que as mulheres representam um percentual de 80% nas amostras de indivíduos que apresentam um comportamento de consumo compulsivo.
Sendo este grupo efusivo também nos estudos que medem os índices de neuroticismo em larga escala.
Um indivíduo pode encontrar em um bloco de pedido a definição do que está sentindo falta.
As técnicas de marketing rastreiam e persuadem conjuntos da população que exibem determinadas características em comum, mostrando ao alvo a importância de seus bens.
O cérebro inicia seu mecanismo de recompensa a partir da identificação de um problema e sua consecutiva solução.
O entendimento dessas informações permite a transição entre atividade mental estática e móvel, estimulando diversas áreas do córtex frontal.
Construção da solução
A construção do caminho entre ponto A, representado pela definição do problema e ponto B, retratado pela definição da solução estimula a liberação de diversas emoções que combinadas se traduzem em uma ideia entendida como esperança.
A esperança, sob uma abordagem fisiológica, é um agrupamento de neurotransmissores ligados às sensações de alegria e medo.
Neste cenário, o termo “medo”, em doses mínimas, deve ser encarado como excitação ou seu hormônio correspondente: adrenalina.
Em grandes decisões, esta segunda fase do sistema de recompensa é lenta, visto que construir um plano de ações para uma grande meta é um processo que exige esforço mental nas regiões do cérebro que lidam com o pensamento racional.
Assinar uma nova instalação de internet, no entanto, é uma atividade simples. Basta encontrar operadoras do serviço, entrar em contato e realizar o pagamento.
Na era da publicidade de atração, estas oportunidades chegam facilmente ao cliente ideal.
As compras virtuais oferecem os mesmos estímulos próprios de uma grande tomada de decisão, em intervalos menores que acentuam a produção de dopamina, hormônio que causa o prazer característico da recompensa.
O cérebro compreende que uma atividade prazerosa deve ser repetida, perpetuando a ação que se fortalece a cada nova experimentação de emoções positivas.
A ação torna-se hábito e o indivíduo torna-se menos suscetível a resistir a uma oferta em banner personalizado.
Execução da solução
O consumo moderno, por sua simplicidade e profunda capacidade de persuasão, mescla construção e execução de uma solução entendida para um problema.
Dois processos separados se fundem graças ao curto intervalo entre uma e outra atividade.
Contudo, o ato de deslocar-se até um ponto de venda é mais lento do que executar uma compra por um aparelho digital portátil, conectado à internet e disponível ao uso em qualquer lugar. Os anúncios na tela são convites personalizados à uma vitrine.
A migração dos estabelecimentos físicos ao comércio online solapou o fenômeno de hiperestimulação do sistema de recompensa.
Novas aquisições de produtos são decididas em segundos e executadas em poucos minutos.
Conquista da meta
A aquisição do produto, visto neste cenário como uma meta alcançada, provoca sensações de prazer equiparadas a comer o alimento favorito, uso de substâncias químicas recreativas e consumo de redes sociais e jogos.
Quando o comportamento ganha contornos compulsivos, o indivíduo é direcionado a buscar as mesmas sensações adquiridas no momento da compra, realizando aquisições mais impulsivas, como uma caixa de papelão personalizada para presente.
O modelo de construção dos games pode ser aplicado em uma analogia plástica ao processo que transforma o ato de comprar em um vício.
O game possui um arco dramático onde o herói precisa superar desafios até alcançar o objetivo final, onde o jogo termina.
Uma compra realizada por impulso e não pela necessidade real de um item se mostra frustrante a partir do momento em que o processo de recompensa é finalizado e seu ciclo de emoções é cortado. A euforia do consumo é substituída pela disforia do tédio crônico.
Quebrando o ciclo
Compreender a engrenagem por trás do desenvolvimento da compulsão é essencial para identificar os momentos de principal fragilidade.
É necessário entender as próprias limitações e observar os padrões que o levam a repetir a compra impulsiva.
O hábito do consumo desordenado inicia-se com a ideia de que existe a falta de algo.
O primeiro passo para quebrar o ciclo é genuinamente questionar o fundamento desta sensação e as circunstâncias que provocam o sentimento.
Encontrar as respostas desta pergunta depende de uma mudança de hábitos de organização, definindo o curso dos gastos pessoais como um contrato de endereço fiscal, um histórico registrado no ato de:
- Anotar cada compra feita, seu valor e finalidade;
- Definir um limite de gastos mensal;
- Descartar o excesso de itens;
- Fugir de situações de gatilho.
Monitorar detalhadamente o próprio fluxo de despesas é fundamental para manter a saúde financeira e coibir hábitos destrutivos.
A tarefa pode se tornar mais interessante com o acréscimo de um objetivo final, como a criação de um fundo para viagem.
Conclusão
As compras por impulso, apesar de causadas por uma busca pelo prazer consumista, são fontes de constante aflição e problemas para o indivíduo adepto a esse hábito, comprometendo a liquidez de suas finanças e sua qualidade de vida.
O advento das compras online pode intensificar o estado vicioso da prática, mas uma mudança de rotina diária pode transformar as perspectivas e garantir um relacionamento mais harmonioso entre humano, tecnologia e dinheiro.
Esse texto foi originalmente desenvolvido pela equipe do blog Guia de Investimento, onde você pode encontrar centenas de conteúdos informativos sobre diversos segmentos.