No final do ano passado publicamos um artigo sobre o ano da Fintechs em 2018 no Brasil. Foi um ano marcado por importantes acontecimentos que fizeram o movimento destas empresas, que unem tecnologia com finanças, ter um crescimento muito expressivo.
Além deste movimento aqui no Brasil, em nível global as Fintechs também estão trazendo verdadeiras revoluções para o mercado financeiro. E se considerarmos a América Latina, o resultado não é diferente. Além do crescimento em números, há também um forte crescimento no interesse pelo assunto. Para se ter uma ideia, há cinco anos praticamente não se falava sobre estes tipos de empresa, muito menos existia uma medição consolidada.
Fintechs na América Latina
Desde 2017, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) realiza um relatório anual sobre as Fintechs na América Latina. Na primeira edição, foram identificadas 703 iniciativas em 15 países da América Latina. Um ano depois, na atual edição, foram identificadas 1.166 startups financeiras, em 18 países (crescimento de 66%).
O relatório divide as fintechs em 11 segmentos e mostra o volume de iniciativas que cada um deles representa: Pagamentos e Remessas (24,4%), Empréstimos (17,8%), Gestão de finanças empresariais (15,5%), Gestão de finanças pessoais (7,7%), Crowdfunding (7,6%), Tecnologias empresariais para instituições financeiras (6,1%), Negociação de ativos e mercados de capitais (5,2%), Gestão patrimonial (4,7%), Seguros (4,5%), Pontuação alternativa, identidade e fraude (4%) e Banco Digital (2,2%).
Cabe ressaltar que tais soluções tornaram-se mais fortes graças ao aumento de smartphones na região. Em números, 67% da população da região possuía um smartphone em 2017. Porém, o Banco Mundial estima que ainda 45% dos adultos residentes na América Latina ainda estejam não possuem conta bancária, excluindo-os dos principais serviços financeiros. Em paralelo ao crescimento do número de usuários de smartphones, as ofertas limitadas de crédito, juros elevados e quantidade de pequenos negócios foram grandes incentivos para o Movimento Fintechs crescer na América Latina.
Distribuição pelos países
Em relação à distribuição das iniciativas pelos países da região, temos: Brasil (33%), México (23%), Colômbia (13%), Argentina (10%), Chile (7%), Peru (5%), Equador (3%), Uruguai (2%) e Venezuela (1%). Os outros 3% ficaram distribuídos entre Costa Rica, República Dominicana, Guatemala, Panamá, El Salvador, Paraguai, Bolívia, Honduras e Nicarágua. Vê-se uma grande concentração nos cinco primeiros países, que respondem por 86% das iniciativas. Porém, mesmo os países com poucas iniciativas já chamam atenção no estudo pelo crescimento percentual na quantidade de startups. O Panamá, por exemplo, teve crescimento de 500%.
É interessante também a comparação entre os três principais ecossistemas: Brasil, México e Colômbia. Nos três casos, os maiores números de iniciativas estão nos segmentos de pagamentos e remessas, empréstimos e gestão de finanças empresariais. Os maiores aumentos em iniciativas, nos três casos, estão no segmento de score de crédito, identidade e fraude.
Mulheres e Fintechs
Um número que chama a atenção positivamente na América Latina é a quantidade de mulheres que fundaram Fintechs. Enquanto na média mundial o número de mulheres representa apenas 7%, na região o número é de cerca de 35%. Quando falamos do quadro de colaboradores, quase 80% das Fintechs apresentam pelo menos uma mulher, e, na média estas representam 30% do quadro de funcionários.
Em relação aos usuários, tanto em nível global, quanto regional, a diferença de inclusão financeira ainda é grande entre homens e mulheres. Na América Latina, 59% dos homens afirmam ter uma conta bancária contra 52% das mulheres. Mais do que a conta bancária, o número de mulheres adultas que declaram conseguir poupar ou ter acesso a crédito ainda é baixíssimo, sendo 10% e 9% respectivamente, contra 16% e 11% para os homens.
Com as iniciativas das Fintechs, surgem novas alternativas, mais acessíveis, que contribuirão para que os números entre os gêneros cada vez fiquem mais próximos.
Taxas de crescimento e mortalidade
A maturidade das startups também é algo que chama a atenção. Das iniciativas atuais, a maior parte (37,3%) está na fase de crescimento e expansão, seguidas por 26,5% que estão prontas para serem ampliadas.
Apesar de estarmos falando de uma região envolvendo diversos países, o assunto Internacionalização ainda é pouco comentado. Apenas 32% das empresas afirmam terem expandido suas operações para outros países. Destas, é interessante notar que a maior parte (59,5%) se expandiu para fora da América Latina.
Aproveitando a base da pesquisa de 2017, também é importante observar-se as iniciativas que não deram certo, e resultaram na mortalidade dos negócios. Das 703 startups que haviam participado da primeira edição, 85 encerram suas atividades (12%), sendo que os segmentos com maiores fracassos foram Gestão de Finanças Pessoais e Crowdfunding, Gestão de Patrimônio e Score de Crédito, identidade Fraude de seguros.
Não só por trazerem boas soluções financeiras para os usuários, o movimento das Fintechs também acaba tendo uma grande importância para a sociedade e para a economia. De acordo com a pesquisa do BID, estas empresas empregam em média 32 pessoas. Mais do que isso, diversas iniciativas foram responsáveis pela entrada de capital na região, através de diversas formas.
Desafios e Próximos Passos
Apesar do movimento ser forte e estar em crescimento, as dificuldades e riscos em empreender continuam sendo reais. Na pesquisa, os maiores desafios apontados pelas Fintechs foram: Crescimento (56%), lançamento de produtos (14,6%), acesso a financiamento (13,6%).
De forma geral, as Fintechs estão apresentando um papel fundamental para o desenvolvimento da América Latina, conforme descrito. Estas plataformas estão desafiando o setor financeiro tradicional, e justamente por isso, os governos estão conscientes do potencial e já estão se posicionando, com incentivos e regulações.
No México, foi criada a Lei da Fintech, a primeira da região, aprovada em 1º de Março de 2018, com o objetivo de oferecer mais segurança jurídica para as instituições de tecnologia financeira. Na Colômbia, a Superintendência Financeira criou o Innovasfc, um espaço e fintechs. Novas iniciativas devem ser vistas nesse ano.
O ecossistema está se moldando e se ajustado. Do ponto de vista das iniciativas, espera-se o aumento de incentivos e continuidade no crescimento. Do ponto de vista dos usuários, a experiência que conecta soluções financeiras com praticidade e menores custos é o grande resultado disso tudo.