Desde a pré-escola as crianças passam por um dos aprendizados mais importantes para suas vidas e formação de cidadãos: a alfabetização. Também já aprendem desde cedo a matemática básica, tão importante quanto, afinal, os números estão presentes sempre no nosso cotidiano.
Porém, nesse processo de aprendizado básico, acaba faltando um ensinamento, de um outro tópico que é presente ao longo de toda a nossa vida. Estou falando da relação com o dinheiro, que podemos chamar de Educação Financeira, ou sendo ainda mais específicos, o Letramento Financeiro.
E se formos analisar, há na verdade um “desaprendizado” do assunto, já que, desde cedo, as crianças são bombardeadas com anúncios, comerciais, e incentivos a gastar. Comprar por si só não é o problema em questão, mas sim, gastar sem ter o dinheiro para isso, gerando dívidas e problemas financeiros que podem perpetuar ao longo da vida.
Estatísticas
A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realizou uma pesquisa muito interessante em 2016 e divulgou os resultados no relatório OCDE-INFE International Survey of Adult Financial Literacy Competencies, feito com 51.650 adultos, entre 18 e 79 anos, de 30 países. A pesquisa mediu o letramento financeiro dessas pessoas através de 21 perguntas divididas nas áreas conhecimento financeiro (operações matemáticas básicas no contexto financeiro, inflação, juros simples e juros compostos, risco e retorno, diversificação), comportamento financeiro (orçamento, poupança, compras, objetivos, empréstimos, planejamento) e atitude financeira (finanças no longo prazo).
Além de olharmos o panorama global, o relatório ajuda analisar o atual cenário do Brasil. E isso é mais que preocupante. Se no mundo o grau de letramento financeiro é baixo, no Brasil o resultado fica ainda abaixo da média. Os tópicos que apresentaram maior dificuldade perante os entrevistados foram em relação aos juros compostos (que estão presentes em qualquer empréstimo ou investimento que fazemos nos bancos, por exemplo) e elaboração de orçamento. A análise geral dos resultados mostra que as pessoas têm, em sua maioria, uma tendência ao imediatismo.
Há também um fator gênero que deve ser trabalhado, visando maior igualdade de gêneros. No âmbito mundial, os resultados mostram que os homens possuem um grau de letramento financeiro mais avançado que o das mulheres (61% dos homens atingiram a pontuação mínima, contra 51% das mulheres). No Brasil, a diferença é menor, porém, menos da metade das mulheres conseguiram alcançar a pontuação mínima (52% contra 44%).
Países já colocaram em suas pautas ações voltadas ao letramento financeiro, importância que ficou nítida pelos números globais. Em países como o Brasil, há muito trabalho a ser feito, e, as iniciativas e o interesse não pode ficar só por parte do governo. Conforme dissemos no começo, desde cedo as escolas e os pais devem se prontificar a incluir ensinamentos sobre a relação com o dinheiro.