A Caderneta de Poupança, é, sem dúvidas, o investimento mais conhecido por parte dos brasileiros. Numa pesquisa feita pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (ANBIMA), em 2018, apenas 8% dos brasileiros aplicaram dinheiro em produtos financeiros. Destes, 88% aplicaram recursos na Poupança.
Poupança: uma senhora de 158 anos
Alguns fatores justificam esta predominância pela Caderneta de Poupança, sendo a maior parte deles de caráter cultural. Pouca gente sabe, mas a Poupança foi criada há bastante tempo, através do decreto assinado no dia 12 de Janeiro de 1861, por D. Pedro II. A criação se deu como uma possibilidade de investimentos para as camadas mais pobres da população. Naquela época, o investimento tinha uma rentabilidade de 6% ao ano, e, como é de se esperar, algumas coisas mudaram.
Apesar de algumas mudanças, a essência da Poupança foi mantida ao longo deste tempo. A primeira delas é o caráter de Renda Fixa. O valor investido vai aumentando ao longo do tempo, basicamente através da fórmula de matemática financeira que leva um valor presente a um valor futuro, com ação do tempo e dos juros. A renda fixa, de maneira geral, acaba oferecendo um nível de risco mais conservador, o que faz com que as chances de perda serem bem menores do que no mercado de ações, por exemplo.
Outros fatores contribuem para a Poupança ser tão utilizada: acessibilidade, facilidade de resgate, isenção de taxas e impostos e igualdade entre instituições financeiras. Para quem investe na Poupança, continua sendo possível investir a partir de qualquer valor. Além disso, o resgate pode ser feito a qualquer momento. Por fim, não há a incidência de impostos nem taxas e as regras e cálculos são as mesmas para todas as instituições financeiras que oferecem o produto. Todos estes fatores acabam fazendo da Poupança um investimento prático, seguro e acessível. Porém nem tudo são flores, não é?
Até maio de 2012 a Poupança tinha como rentabilidade o valor da taxa Selic mais a Taxa Referencial (TR). A TR é uma taxa que foi criada em 1991, no governo Collor, como uma tentativa de controlar a hiperinflação. Com o fim desta, ela acabou praticamente morrendo, tendo valor atual igual a 0 (ou seja, não faz diferença alguma nos cálculos). Quem tinha aplicações nesta época continuam com essa regra vigorando, na chamada “Poupança Velha”.
Já quem fez aplicações a partir daí passou a figurar-se nas regras da “Poupança Nova”. A rentabilidade se dá da seguinte forma: quando a taxa Selic estiver acima de 8,5%, a rentabilidade é de 0,5% ao mês mais o valor da TR, e, quando a Selic estiver abaixo de 8,5%, é de 70% da Selic mais a TR.
Inflação: ela pode estar causando “perdas” na sua Poupança
Até aqui, podemos ver a Poupança como um investimento bacana, pelo seu nível de risco, já que, você sempre tem o seu valor investido corrigido, como uma escadinha, está livre de impostos e pode resgatar a qualquer momento, não é? O problema está na tal da inflação…
Em outras palavras, a inflação faz com que os preços dos produtos e dos serviços aumentem ao longo do tempo. Por exemplo, um produto que você compra hoje por R$ 100, no ano que vem, tende a custar mais caro, R$ 110 por exemplo. Um dos problemas da Poupança é que o ganho dela pode ser inferior ao aumento da inflação, o que significa dizer que o ganho real é negativo (ou seja, no exemplo, o preço do produto/serviço aumentou de R$ 100 para R$ 110 em um ano, enquanto que R$ 100 aplicados na Poupança foram para R$ 107, por exemplo).
Dessa forma, mais do que olhar a rentabilidade de um investimento por si só (a chamada rentabilidade nominal), é importante verificar qual foi o ganho real. No ganho real, considera-se o efeito da inflação sobre os ganhos. Para calcular a rentabilidade real, não basta apenas subtrair o ganho nominal pela inflação, mas sim, a seguinte fórmula:
- (1 + rendimentos)/(1 + inflação) – 1
Cenário atual: nada positivo para a Poupança
Passamos recentemente por uma forte recessão. Uma das medidas da equipe econômica do governo foi o de cortes sucessivos na taxa básica de juros, a Selic. Entre julho de 2015 e outubro de 2016, a Selic estava na casa dos 14%. De lá para cá, diversos cortes foram feitos, sendo que hoje ela está na casa dos 5%. Ou seja, além de já estar abaixo dos 8,5%, o que já muda a regra de cálculos da Poupança, usa-se apenas 70% do valor dela, o que hoje, significa uma rentabilidade de 3,5% ao ano, ou 0,29% ao mês. Para se ter uma noção, o IPCA acumulado dos últimos 12 meses (até setembro) é de 3,71%, superior à rentabilidade da Poupança.
Em outras palavras, você está investindo seu dinheiro, até vê ele sendo corrigido, porém, na média, os preços das coisas crescem mais do que o seu rendimento. Você está perdendo poder de compra.
Hora de Mudanças
Apesar da tradição da Poupança, chegou a hora das pessoas buscarem novas formas de investir. Existem desde as opções mais conservadoras, e até similares a Poupança, na renda fixa e alguns fundos mais conservadores (busque verificar se a rentabilidade real é positiva, pois assim como a poupança, também podem estar perdendo da inflação) até opções mais arrojadas, na renda variável ou nos fundos. Esta mudança exige uma boa base de Educação Financeira e de jamais esquecer a relação Risco x Retorno.