O Natal é uma das (se não a mais) data mais esperada do ano, seja por parte das pessoas, seja por parte dos comércios. Do ponto de vista da população, para a grande maioria, é uma data que simboliza uma folga, pois, junto com o Ano Novo, acaba sendo emendado muitas vezes. Para os estudantes, é também a data de retrocesso, que acaba emendando com as férias de verão. Do ponto de vista do comércio, seja ele físico ou virtual, é a data que mais movimenta a economia, contribuindo para toda a cadeia: desde as fabricantes, passando pelo ponto de venda, e, também gerando vagas temporárias. Somado a tudo isso, há o fator décimo terceiro, que proporciona aos trabalhadores de carteira assinada um salário a mais.
De acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 19% dos consumidores costumam gastar mais do que podem com as compras de Natal. Mais do que isso, 5% dos brasileiros pretendem deixar de pagar dívidas para fazer compras de final de ano, e outros 5% deixarão de pagar alguma despesa por esse mesmo motivo. Chama a atenção que destas contas que deixarão de ser pagas, a que vem em segundo lugar, com 16% das pessoas, é a cartão de crédito, que, quando atrasada, apresenta uma das maiores taxas de juros do mercado.
Por conta destes números, muita calma e planejamento devem estar presentes nessa hora. Há uma tradição muito forte de presentear as pessoas nessa época, os shoppings centers e centros comerciais aumentam seus horários de funcionamento, e supermercados e lojas enchem seus estoques com produtos natalinos e alimentos especiais. Tudo isso vinculado às propagandas que mostram a ceia, felicidade e o espírito natalino entram como um incentivo para que as pessoas abram suas bolsas e carteiras nessas épocas. Mas, vale lembrar que muita gente encontra-se em situação de endividamento ou de bolsos vazios, e, gastar mais do que deve nessa hora poderá trazer grandes prejuízos para o ano que está por vir.
Já vimos que, mesmo fora do Natal, existem algumas armadilhas que são criadas por conta do nosso cérebro ter um sistema mais impulsivo e emotivo em boa parte do tempo, o tal do Sistema 1, enquanto que o sistema racional e lógico, o Sistema 2, é aquele que fica em “Stand-by” na maior parte do tempo. Abaixo, listamos algumas armadilhas e dicas de como combatê-las:
1) Psicologia Econômica com as Crianças
Um dos principais alvos do Natal são as crianças. Estas são as que mais ganham presentes nessa época, inclusive por conta da imagem do Papai Noel. Grande parte das lojas reservam seções para chamar a atenção desse público e canais de televisão e youtube trazem propagandas o tempo todo. Comprar presentes não é o problema, mas sim, correr o risco de você gastar mais do que pode. Para quem ainda não viu, fica a dica do vídeo “O Teste do Marshmallow”, que mostra o comportamento das crianças em relação a poder comer um único marshmallow agora, ou, esperar alguns minutos para ganhar dois marshmallows.
Dica: evite levar as crianças aos shoppings, lojas e mercados nessa época do ano, pois elas desejarão comprar muita coisa. Reforce com elas a importância da Educação Financeira, com a ideia de Poupar agora para conseguir comprar algo mais para frente. Evite também ficar dado presentinhos antes do tempo, deixando para dar o presente no Natal.2
2) Contabilidade Mental e as Ofertas imperdíveis
Muitas lojas criam propagandas e campanhas com as expressões “Imperdível”, “Só Amanhã”, “Últimas Unidades”. Chamadas como estas fortalecem o senso do imediatismo, e, podem fazer você gastar mais do que deve, inclusive comprando itens que não precisava.
Dica: faça listas de presentes e compare preços em diferentes lojas e nos buscadores de preços online. Lembre-se que, na maior parte das vezes, os produtos, mesmo que acabem, serão repostos. Se possível, não compre no mesmo dia que você viu o item que deseja. Volte para casa, compare, pense e, aí sim, você saberá se realmente vale a pena. Evite também deixar tudo para a última hora, pois a sensação de urgência estará ainda mais forte.
A lista de presente pode ser feita conforme o exemplo abaixo (podendo ser uma planilha, no papel ou no celular), no qual são levantadas as pessoas as quais você deseja presentear, o presente que será comprado, a faixa de valor estipulada (Orçado), o valor real pago e a forma de pagamento. Ela te ajudará a ir determinado(a) para as compras e que evite gastar mais do que o necessário.
3) Parcelamentos
Outra forma de conquistar os clientes é oferecer parcelamentos extensos. Como trata-se de uma época do ano que tradicionalmente gasta-se mais, muita gente fica preocupada e vê que não conseguirá comprar tudo. Porém, com a opção do parcelamento, a pessoa pode prender-se apenas no valor da parcela (repare na figura abaixo que o valor da parcela é marcado com destaque e maior do que o valor total em si).
Dica: faça um levantamento da sua atual situação financeira, projetando quais gastos você terá nos próximos meses. Se for fazer um parcelamento, faça as contas de quanto isso custará no total para o seu bolso e verifique se não há incidência de juros. Lembre-se que parcelar em 12x significa que você pagará pelo que comprou até o Natal do ano que vem!
4) Compre e ganhe
Muito cuidado com promoções de shoppings e lojas que “beneficiam” os clientes com prêmios e cupons. Diversos estabelecimentos proporcionam brindes e sorteios para os clientes que gastarem a partir de R$ X, ou dão desconto no produto a partir de X unidades que forem compradas:
Dica: o cuidado aqui deve ser tomado em não comprar mais do que deve apenas para ganhar o prêmio. Faça lista de compras e estipule o valor que será gasto em cada presente. Confira também as regras da promoção para não cair em pegadinhas. Sempre pergunte-se: “Eu preciso mesmo disso?”
5) Efeito Manada
O efeito manada é outra armadilha que também é nítido nesta época. Basicamente, tratam-se das situações em que um grupo de indivíduos reage de maneira semelhante, mesmo que de forma irracional, apenas por causa de pressão exercida pelo grupo. No natal, isso pode ser refletido na compra de um determinado produto, que todos querem simplesmente por ser famoso, ou entrar em lojas mais caras mas que, por terem filas gigantescas, acabam atraindo mais. Um dos produtos que vem passando por esse fenômeno é o balão led, que inicialmente já foi vendido por R$ 4, hoje é possível encontra-lo por mais de R$ 40 e, virou uma verdadeira febre:
Dica: faça listas, avalie e pesquisa sobre o que você vai comprar.
6) Psicologia dos Preços
Durante o ano todo, inclusive no Natal, boa parte dos preços são divulgados com números quebrados, que costumam dar falsas impressões de descontos ou dificultam quanto as pessoas vão fazer as contas. Isso acontece, por exemplo, quando são mostrados os preços “.99” nas prateleiras. Muita gente ao ver esse preço, arredonda o número para baixo, para o dígito à esquerda da vírgula. Ou seja, o R$ 9,99 se torna R$ 9, e por aí vai…
Além disso, também há o efeito ancoragem. Muitos produtos são listados em sequência, com a comparação, muitas vezes, de três ou mais produtos ou serviços parecidos, que acabam tendo alguns diferenciais entre eles, conforme aumenta-se o preço. O que acontece é que muitas vezes as pessoas não escolhem da forma melhor custo-benefício, mas escolhem por os produtos na faixa intermediária.
Dica: pesquise preços e faça as contas (aproveite a calculadora do seu celular e aplicativos de comparação de preços!)