A partir de 2027, o chamado split payment — novo sistema de arrecadação previsto na Reforma Tributária — vai alterar a forma como as empresas recolhem impostos. O valor do tributo será retido no momento em que a venda é paga, antes de o dinheiro chegar ao caixa da companhia. O modelo promete mais transparência e menor sonegação, mas traz o risco de reduzir o capital de giro das empresas e afetar o planejamento financeiro. Segundo estimativas da Febraban, o capital de giro das empresas pode ser reduzido em até 15%.
Na prática, quando uma venda for paga, o valor correspondente aos impostos será automaticamente separado e enviado ao governo, antes mesmo de o dinheiro entrar no caixa da empresa. O modelo inverte o processo atual — em que a companhia recebe o valor integral da venda e faz o recolhimento posteriormente.
“O split payment significa que as empresas deixam de contar com o valor total das vendas para compor seu fluxo de caixa e precisam se preparar para operar com menos liquidez desde o início”, explica Marcos Tadeu Jr., CEO da Invent Software. Ele alerta que setores com margens apertadas, como comércio e construção civil, devem sentir mais o impacto.
O novo modelo vale para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e para a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) — que substituirão ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins.
A implantação será gradual. Em 2026, empresas participarão de um projeto-piloto com alíquotas simbólicas de IBS e CBS. Já em 2027, o modelo poderá ser adotado de forma facultativa em transações entre empresas (B2B), com previsão de expansão futura para o varejo e vendas ao consumidor final.
Além da adaptação nos softwares, há incertezas operacionais: ainda não está definido como serão feitos os estornos em caso de retenção indevida e quem será o responsável pelo tributo em vendas parceladas. “O split payment aproxima o Brasil de práticas adotadas em países que utilizam o IVA e pode contribuir para um ambiente de negócios mais transparente. O sucesso dependerá da capacidade das empresas de se preparar para um modelo que antecipa a saída do dinheiro e exige mais disciplina financeira”, conclui Marcos Tadeu Jr.
